sábado, 27 de março de 2010

Teste

Esta rispidez iria partir de um raríssimo episódio criativo: seu título era Texte. Eu iria, exercitando minha incomparável capacidade neologística, criar o verbo textar. Supostamente, isso serviria para aguçar a curiosidade do Bissextíssimo, que iria perceber logo que minha rispidez consistia unicamente de uma exortação ao leitor para que também escrevesse algo de vez em quando, em vez de vir incansavelmente até aqui só para parasitar meu brilho e fulgor.

Ocorre que Bissextíssimo tem várias coisas em dobro, inclusive neurônios. Ele usou dois e chegou a conclusão que meu verbo era sinônimo de escrever. E meu apelo à escrita foi pro lixo. Não iriam servir de nada dezenas de palavras mostrando que haveria uma diferença qualitativa entre escrever e criar (tal como em alguns textos pretende-se que exista entre ouvir e escutar). Sendo assim, desisti de elaborar o que foi escrito acima e resolvi mudar de tema.

Então, como disse uma vez o filósofo Ivan Lins, "começar de novo...".

Não vou falar sobre Textar. Vou propor um Teste. Vamos a ele.

Pegue um pedaço de papel; marque nele um traço vertical, produzindo duas colunas.


  1. Um em cada coluna, aponha os títulos "mau caráter" e "bom sujeito".
  2. A seguir, liste nomes de pessoas que você conhece na coluna correspondente à sua opinião sobre ela ou ele.
  3. Ato contínuo, risque os títulos e substitua "mau caráter" por "petralha"; e "bom sujeito" por eleitor do José Serra ou por Anti-Lula (observação: o procedimento sugerido vale também se você é um petralha  e odeia a "tucanalha". Apenas opere as trocas correspondentes).
Pronto.

Agora, retorne ao conteúdo da sua tabelinha. Quanto mais cedo você observar o óbvio, isto é, que nem todo mundo que é petralha é mau caráter - e todos os vice-versas resultantes - mais cedo você terá aprendido que maniqueísmo moralista e coisas como Governo, Estado, Vida Pública, Coisa Pública etc. não são categorias sinônimas.

Nesta hora, se você, como o Bissextíssimo, tem mais de dois neurônios, já terá parado de ler o Blog do Reinaldo Hollywood na Veja e poderá, são e salvo, voltar a considerar a vida pública em toda a sua diversidade e riqueza.

Nota 1: se você faz curso de Administração de Empresas, ou é ouvinte do Max Gehringer, advirto que, a despeito de se tratar de uma tabela, neste caso uma planilha eletrônica é dispensável. Calma, o Excel não é tudo nesta vida. Pare. Respire. Continue... Neste teste você será convidado a pensar, a refletir, e isso não combina nem com planilhas ou com as mais avançadas teorias sobre planejamento estratégico. Dispa-se de sua planilha e pegue um lápis. Coragem. Não dói. Garanto.

Nota 2: alguém já notou como a superpopulação de administradores cresceu exponencialmente a partir do Excel, Lotus e similares? Haveria uma correlação positiva entre o número de colunas e linhas de uma planilha eletrônica e a proliferação de "teorias" administrativas tão irrelevantes como pretensiosas? Seria a pretensão uma grandeza diretamente proporcional à irrelevância? E como isso se vincularia ao número de colunas das planilhas eletrônicas?

Nota 3: agora que me dei conta: o título "Pedagogia Para Não-Leitores de Reinaldo Azevedo" caberia melhor a esta rispidez.

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